O BONSAI DE MARIA


apesar do vaso imenso
mesmo sendo diminuta
suas raízes espalhavam por todo aquele espaço

com um tronco fino
não havia vento que o fizesse envergar
era concreto
sobreposto a armação de ferro

os galhos tinham feições de pata humana
dois deles até pareciam
oferecer um pedaço de pão

o conjunto de todos os galhos
em dia de sol forte
oferecia abrigo a formigas cansadas
e por vezes alguma lesma
aproveitava desta bondade

suas folhas eram cheias de veias
eram linhas e mais linhas
como páginas de jornais
ou antigos contos
dos tempos do baronato do café

estava a tanto tempo
fincada ali que parecia ter sobrevivido
ao dilúvio e ao vesúvio

vez por outra
sempre na primavera
de seu caule brotavam mudas
que contadas eram nove
mas com certeza foram
muito mais de vinte

entre a sua copa
parecia existir um oratório
no mesmo dia que o deus ressuscitou
toda a seiva do bonsai secou

o bonsai mesmo morto
permanece onde sempre esteve
como se o mundo
ainda girasse ao seu redor
mesmo sem ele
nunca ter saído dali

a poeira permanece em sua pele
o verde da sala
onde ele sempre esteve
não é tão mais verde
mas é verde
tudo sobre ele

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